Artigo

O POTENCIAL CRIATIVO DE UMA CRISE

...e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. "Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados. " (1 Reis 19.4)

Pode alguém passar por uma crise mais grave do que esta, ao ponto de pedir a Deus a morte? Nos dias atuais os especialistas diriam que o grande profeta Elias estava desanimado, cansado, depressivo. Uma depressão profunda a ponto de pedir a morte.

Fiquei sabendo de um pastor de uma grande igreja evangélica de nosso país que um dia ficou mais de três horas chorando dentro de seu carro no pátio de um shopping center. Por visitação do Senhor, assim como Elias, sua terapeuta (que ele não visitava há algum tempo) sentiu fortemente em seu coração de ligar para seu paciente. Ao ouvir sua voz no celular perguntou: "Pastor, você está bem?". Sua resposta foi: "Estou no carro há mais de três horas e não consigo sair daqui". Ela, prontamente, foi até seu encontro e ajudou-o num momento de crise aguda. Esse pastor trabalha em uma igreja com mais de três mil membros, mora bem e está sempre em eventos importantes da sociedade para ministrar. Sua pregação é uma bênção e tem abençoado a muitos que lhe ouvem. É, com certeza, um homem de Deus. Porém a crise faz parte da vida.

Por se tratar de um artigo da nossa UMBI, vou me deter na crise em âmbito pastoral, ministerial. Primeiro, tratemos das crises, depois de como usá-las com potencial criativo.

Uma das questões na prova de teologia pastoral em nosso seminário no Paraná é colocar V (Verdadeiro) ou F (Falso) nesta afirmação: "O ministério pastoral é feito de crises". Muitos, ao responder, colocam falso. Mas a resposta certa é Verdadeiro. Por que sublimamos o ministério pastoral, o missionário no campo, etc., como algo que "não fica bem passar por crise"? O fato de sermos pastores, pastoras e obreiros cheios do Espírito Santo, com temor de Deus, estudiosos de sua Palavra, não significa que não teremos crises.

As crises podem atingir a vida espiritual, familiar, financeira e também as emoções. Lidamos com problemas de pessoas, com conflitos na igreja, com pressão para obter resultados, etc. Muitos pastores ainda sofrem pelo fato de não conseguirem manter um equilíbrio entre o ministério pastoral e a vida familiar. Geralmente, a família fica renegada a um segundo plano, pois o seu tempo está, invariavelmente, reservado para a "obra de Deus". Pastores esquecem que sua família é seu primeiro rebanho.

Bem, falar de crises é fácil, mas vamos pensar juntos na possibilidade de sermos criativos para tirar proveito dela. Pensando no ministério, a crise deve nos levar a: orar pedindo sabedoria, confiar que Deus nunca nos desampara, buscar conselho com obreiros mais experientes e ficar sempre com a orientação da Palavra de Deus.

Vejamos alguns exemplos bíblicos:

1. Salomão, ainda novo, recém iniciando seu reinado, ora a Deus e pede sabedoria para conduzir o povo, pois de fato, sentia-se despreparado (2Cr 1.11).

2. Jó, cujo testemunho do próprio Deus (que o apresenta como homem íntegro e reto), ao ser posto em prova, perdeu no mesmo dia 10 filhos, muitos bens e muitos servos, mesmo assim, orou mostrando sua confiança em Deus (e disse: "Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor " – Jó 1.21)

3. Roboão, filho de Salomão, sucessor no reino de Israel, preferiu dar ouvido ao conselho de jovens ao invés de atentar para a palavra dos mais experientes. Deu-se mal. O povo que estava cansado de servir a Salomão pela imposição de tributos pesados uniu-se a Jeroboão e a nação de Israel se dividiu em dois reinos: O Reino do Norte (com 10 tribos, cuja capital foi Samaria) e o Reino do Sul (com Judá e Benjamin, cuja capital foi Jerusalém).

4. Pedro e os apóstolos foram levados ao Sinédrio e interrogados pelo sumo sacerdote, pois haviam recebido ordem para não anunciar o nome de Jesus: "Pedro e os outros apóstolos responderam: ‘É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!’" (At 5.29)

Mas, sem dúvida, um dos textos bíblicos que nos ensina a sermos criativos em meio as crises é a passagem do administrador desonesto (veja Lucas 16). De maneira nenhuma Jesus está nos ensinando a sermos desonestos. Ele apenas elogia a atitude criativa do administrador desonesto que estava sendo desligado de suas funções administrativas.

O administrador em sua crise pensou: "... disse a si mesmo: ‘Meu senhor está me despedindo. Que farei? Para cavar não tenho força, e tenho vergonha de mendigar... (Lc 16.3).

Sabe irmãos, esta pode ser a realidade de muitos pastores que não se prepararam para ter uma outra profissão além do pastoreio. Passados os anos, não mais produzindo de acordo com o que a igreja espera, ele se vê apertado por não saber fazer outra coisa a não ser pastorear. Aí, os colegas vão se arrastando, brigando, lutando para garantir seu lugar na igreja e por que não dizer, também, o sustento da família.

Pastores não se preparam para as crises. Não se preparam a parar de pastorear com dignidade. Sei que colegas discordarão de mim. Não escrevo com a expectativa ilusória de agradar a todos, nem mesmo quero me agradar. São apenas reflexões. Sei também que todos cremos nesta verdade: "O Deus que chama, sustenta". Creio que devemos comer nas mãos de Deus e não dos homens; só não podemos esquecer que Deus usa homens para nos sustentar...

Ouvi de um pregador nessa semana: "O que vão lembrar de nosso ministério é o último feito. São as últimas obras. O que lembram de Judas? Que ele foi um apóstolo? Que ele pregou? Que ele orou por enfermos? Vão lembrar o que ele fez nos três anos que andou com Jesus? Não. Vão lembrar de seu último ato: "traiu o mestre".

O saudoso e muito bom pastor Reinaldo Schmidth disse em certa ocasião à minha esposa no início de nosso ministério: "O pastor só é valorizado enquanto está servindo, depois disso é facilmente descartado".

O administrador desonesto foi inteligente. Diminuiu a dívida dos devedores de seu senhor, esperando algum reconhecimento deles quando estivesse desempregado (Lc 16.5-7). Com isso o seu senhor o elogiou: “O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu astutamente. Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz” (Lc 16.8).

Precisamos aprender a ser criativos em meio as crises. Outro dia conversava com a faxineira do prédio que moro. Ela mora em Araucária, acorda 5h30min e chega no trabalho 7h. Ela disse-me: “Apesar da crise no Brasil, só não trabalha quem não quer...”

É evidente que todos nós que confiamos no Senhor Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, contamos com a ajuda do alto para vencermos "crises". Foi assim com Elias. Ele pediu a morte. O Senhor lhe deu "água e pão". Interessante. Água e Pão são de fato o mínimo que precisamos para a sobrevivência do corpo. Sem água e sem alimento não sobrevivemos. Elias pediu a

MORTE, o Senhor lhe ofereceu a VIDA. E na força daquela visitação Elias continuou o ministério que o Senhor lhe havia dado.

Lembre-se amado colega pastor. Seu tempo em uma igreja pode ter acabado, mas sua chamada continuará até a vinda do Senhor. Disse em certa ocasião o pastor Pedro Mendes: "o pastor de Jesus só entrega seu cajado da chamada no dia de sua morte!"

Lembremos, para terminar, da Bênção Araônica: "O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te conceda graça; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê paz. (Nm 6.24-26)

Irmãos eu creio que debaixo dessa bênção podemos ser criativos e superarmos todas as crises. Deus nos abençoe. Amém!

RMC.

DATA DA ATUALIZAÇÃO: 21/10/2022