Artigo

O FATOR ABSALÃO: REFLEXÕES!


“A sua causa é válida e legítima, mas não há nenhum representante do rei para ouvi-lo".

E Absalão acrescentava: "Quem me dera ser designado juiz desta terra! Todos os que tivessem uma causa ou uma questão legal viriam a mim, e eu lhe faria justiça".2 Samuel 15.3,4


Dos muitos filhos que o rei Davi teve, Absalão, certamente, demanda um destaque investigativo. Ele não passou em branco na história de Israel. Era um belo rapaz e líder por natureza. Era um homem ambicioso e com objetivos definidos. Deu muita dor de cabeça ao seu pai, o rei Davi. Fez seu pai chorar, tanto em sua vida, como em sua morte.

Para chegarmos no capítulo quinze de 2ª Samuel, vamos resumir alguns fatos marcantes na vida de Absalão até então: 1. Absalão se vinga de Amnom, seu meio-irmão, por ter violentado sua irmã Tamar; ele ordenou aos seus homens: "Ouçam! Quando Amnom estiver embriagado de vinho e eu disser: ‘Matem Amnom!’, vocês o matarão. Não tenham medo; eu assumo a responsabilidade. Sejam fortes e corajosos!” (2 Samuel 13.28). Davi chorou por seu filho Amnom, e Absalão fugiu da presença do rei. 2. Joabe intercede por Absalão diante de Davi e ele pode retornar a Jerusalém.Mas o rei disse: "Ele irá para a casa dele; não virá à minha presença". Assim, Absalão foi para a sua casa e não compareceu mais à presença do rei (2 Samuel 14.24).3. Após dois anos recebeu concessão para comparecer novamente diante do rei - Então Joabe foi contar tudo ao rei. Este mandou chamar Absalão, que entrou e prostrou-se, rosto em terra, perante o rei. E o rei saudou-o com um beijo (2 Samuel 14.33).

Passemos às reflexões a partir do capítulo quinze.

I – BOAS AÇÕES X MÁS INTENÇÕES

Sempre que observamos as atitudes de grandes líderes mundiais, gostamos de destacar os feitos, as qualidades, as conquistas, a habilidade de liderança dessas pessoas. Mas é interessante perceber que, nem sempre, as “boas ações”; em tese, são acompanhadas de “boas intenções”. Talvez, um dos maiores exemplos da história diz respeito a Adolf Hither, que em nome de exaltar a Alemanha como nação e tentar torná-la uma potência mundial, usou da guerra como justificativa para dizimar mais de 6 milhões de judeus.

Absalão agiu para com o povo de Israel com aparentes boas ações, começou a abordar as pessoas que iam até Jerusalém para apresentar suas causas ao rei. Ouvia as pessoas, dizia que a causa era válida e justa e se apresentava como futuro solucionador do problema (2 Sm 15. 2 – 4). Desse modo, Absalão ia conquistando o coração de todos em Israel. Ele fez isso durante quatro anos, tempo suficiente para preparar sua plataforma política, afinal, quem deveria substituir um dia o rei Davi, senão um de seus filhos?

No exercício do ministério pastoral, ou em posições de lideranças denominacionais, vivemos uma experiência constante de serviço e liderança. Como pastores, servimos a Igreja, as famílias, as pessoas, a denominação. Por outro lado, lideramos e “usamos o serviço” das pessoas para nos ajudarem a atingirmos juntos os objetivos traçados. Podemos ao longo da caminhada ministerial errar e certamente erraremos, mas no final da jornada é importante ter a certeza que todas  as nossas ações foram pautadas em “santas e boas intenções”! Não podemos deixar que as lutas e possíveis decepções tirem nosso foco de Jesus como modelo de nossa liderança pastoral.

Tanto Davi como Absalão erraram ao longo da vida; a diferença estava na intenção do coração: de um era boa, de outro era má!

II – RECUAR, SIM; DESISTIR, JAMAIS

Quando Davi se deu por conta, Absalão já havia levantado uma liderança como apoio de Aitofel (conselheiro de Davi), e sendo declarado rei por alguns, passava a ser uma ameaça a Davi e um ponto forte de conflito em Jerusalém. Então um mensageiro chegou e disse a Davi: "Os israelitas estão com Absalão! "(2 Samuel 15:13). Davi tinha duas opções: a) Juntar seu exército, seus apoiadores, seus fiéis soldados e lutar contra Absalão e defender Jerusalém deste levante rebelde. B) outra possibilidade seria a de fugir do confronto e entregar nas mãos de Deus toda essa situação. Davi opta pela segunda ação e falou aos conselheiros que estavam com ele em Jerusalém: "Vamos fugir; caso contrário não escaparemos de Absalão. Se não partirmos imediatamente ele nos alcançará, causará a nossa ruína e matará o povo à espada" (2 Samuel 15.14).

Que dura realidade para um pai: fugir de seu filho! Sofrer traição e oposição de seu filho Absalão. Não bastasse o episódio com a morte de Amnom, agora a causa era muito maior e muitas pessoas dentre o povo poderiam perecer. Sem dizer que Davi não queria o mal de seu filho (Davi amava Absalão). Prova disso foi seu choro copioso por ocasião da morte de Absalão tempos depois. “Então o rei, abalado, subiu ao quarto que ficava por cima da porta e chorou. Foi subindo e clamando: ‘Ah, meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera ter morrido em seu lugar! Ah, Absalão, meu filho, meu filho!’ " (2 Samuel 18.33).

Nessas horas difíceis na vida de um líder, contar com o apoio e fidelidade dos liderados é fundamental. Davi teve muitas manifestações de apoio.  Os conselheiros do rei lhe responderam: "Teus servos estão dispostos a fazer tudo o que o rei, nosso senhor, decidir" (2 Samuel 15.15). Davi também contou com a lealdade de Itaí, comandante dos homens de Gate (sua guarda pessoal de 600 homens) que acompanhou o rei em sua fuga, embora Davi tenha lhe dito para permanecer junto ao novo rei. Itai, contudo, respondeu ao rei: "Juro pelo nome do Senhor e por tua vida que onde quer que o rei, meu senhor, esteja, ali estará o seu servo, para viver ou para morrer! " (2 Samuel 15.21).

Certamente, estimado colega, em algum momento de seu ministério, ainda que por estratégia do próprio Deus, você teve que recuar em alguma situação específica. Pelo bem da Igreja, de sua família, ou de seu próprio ministério. Se recuar implica preservar sua saúde emocional, vale a pena. Isso não significa que estamos abandonando a Deus e desistindo de servi-lo! Em todas as situações, contudo, precisamos da direção do Senhor, pois em alguns casos é necessário o enfrentamento, a correção, a firmeza na liderança. Qual é o segredo? Ter um coração sincero para servir com verdadeira e “boas intenções”.

III - A CONFIANÇA NO SENHOR EM TEMPOS DIFÍCEIS

Esse conflito com Absalão abalou profundamente a vida de Davi. Ele, certamente, não queria vivenciar tal situação. Absalão se tornou um inimigo, mas era seu filho. Imaginem conviver com um inimigo que você ama profundamente...Que dor! Penso que a estratégia de fuga de Davi contou com todos esses ingredientes familiares e emocionais. Davi queria permanecer rei, queria a paz em Israel e não queria o mal de Absalão.

Foi difícil. O povo chorou. “Todo o povo do lugar chorava em alta voz enquanto o exército passava. O rei atravessou o vale do Cedrom e todo o povo foi com ele em direção ao deserto” (2 Samuel 15.23). Davi, seguindo seu caminho também chorava - Davi, porém, continuou subindo o monte das Oliveiras, caminhando e chorando, e com a cabeça coberta e os pés descalços. E todos os que iam com ele também tinham a cabeça coberta e subiam chorando (2 Samuel 15.30).

Zadoque e os levitas trouxeram a arca da aliança de Deus e ofereceram sacrifícios ao Senhor enquanto a comitiva passava. Adoração em tempos difíceis. Davi entendia que o lugar da arca era no templo do Senhor e mandou levá-la de volta. Davi confiava em Deus. Sabia que fora o Senhor que o escolhera e que só o Senhor deveria mantê-lo como rei. “Então o rei disse a Zadoque: ‘Leve a arca de Deus de volta para a cidade. Se o Senhor mostrar benevolência a mim, ele me trará de volta e me deixará ver a arca e o lugar onde ela deve permanecer’” (2 Samuel 15.25).

Ao saber que Aitofel havia se unido a Absalão, Davi ora ao Senhor. “Quando informaram a Davi que Aitofel era um dos conspiradores que apoiavam Absalão, Davi orou: ‘Ó Senhor, transforma em loucura os conselhos de Aitofel’"(2 Samuel 15.31). Outras estratégias foram tomadas pelo rei, como pedir a Husai, o arquita, que permanecesse em Jerusalém como um vigia, para informar a Davi dos procedimentos e das ideias de Absalão. Nessas horas difíceis é importante contar com amigos sinceros: “Então Husai, amigo de Davi, chegou a Jerusalém quando Absalão estava entrando na cidade “(2 Samuel 15.37).

CONCLUSÃO

Já ouvimos essa afirmação em palestras e pregações: “As vezes, é preciso recuar um passo, para depois, avançar dois à frente”.

Certamente Deus permitiu que tudo isso acontecesse na vida de Davi, inclusive o fato de Absalão se deitar com as concubinas do rei diante dos olhos de todos, conforme Deus já havia dito que aconteceria:   "Assim diz o Senhor: ‘De sua própria família trarei desgraça sobre você. Tomarei as suas mulheres diante dos seus próprios olhos e as darei a outro; e ele se deitará com elas em plena luz do dia (2 Samuel 12.11). Davi sabia:  o que estava acontecendo eram situações decorrentes de seu pecado, de suas falhas. Ele fora perdoado, mas tinha que arcar com as consequências de seus erros.

Ser irrepreensível diante de Deus é um desafio a todo crente, mas especialmente aos obreiros da Seara:  pastores, pastoras, missionários (as), a todo líder que se entrega ao serviço do Senhor.

Que o Eterno nos guarde e nos proteja durante toda a nossa jornada. Amém!

 

DATA DA ATUALIZAÇÃO: 21/10/2022